Isadora da.

Isadora da.

@isadoralft0014

Termografia elétrica: prevenir incêndios e falhas em instalações

A termografia elétrica é uma ferramenta de inspeção essencial para identificar pontos quentes em instalações elétricas — desde o quadro de distribuição de uma residência até barramentos e transformadores em plantas industriais — contribuindo diretamente para a redução de riscos elétricos, adequação legal e ganho de eficiência energética. Aplicada com critérios técnicos e conformidade normativa, a termografia permite detectar falhas por conexão frouxa, sobrecarga, desequilíbrio de fases e problemas de proteção (incluindo dispositivos DR/DPS e sistemas de aterramento) antes que uma falha catastrófica ocorra. Este manual aborda fundamentos físicos, requisitos de equipamento, procedimentos de inspeção, segurança conforme NBR 5410, NBR 14039 e NR-10, interpretação de anomalias e recomendações práticas para implementação profissional, incluindo exigências de ART e responsabilidade técnica (CREA).

Fachada-principal-de-casa-peque%C3%B1a-Fotos-por-Andr%C3%A9-Barbosa.jpg

Fundamentos da termografia elétrica



Princípio físico e interpretação térmica


Câmeras infravermelho medem radiação térmica emitida por superfícies e convertem em imagens de temperatura. Em sistemas elétricos, aquecimento anômalo é consequência de perdas por efeito Joule (I2R), contatos com resistência aumentada, saturação magnética, efeitos de harmônicos e falhas de isolamento. A interpretação exige conhecimento do circuito elétrico, condições de carga e comparação com pontos similares (fases entre si, conexões de mesma natureza).



Parâmetros da imagem térmica: emissividade, refletância, NETD, IFOV


Para medições consistentes considere:



  • Emissividade: ajuste o valor conforme material. Metais polidos têm emissividade baixa (cobre nu ~0,02–0,05), metais oxidados ou pintados apresentam emissividade maior (0,6–0,9). Erro na emissividade gera leituras significativas erradas; sempre documentar o valor usado.
  • Reflexões: superfícies metálicas refletem radiação ambiente; evite imagens com reflexos ou utilize placas de referência (spray antip reflection) ou calcular correção com medição de temperatura de referência.
  • NETD (Noise Equivalent Temperature Difference): sensibilidade térmica ideal ≤ 40 mK (0,04 °C) para inspeções profissionais; valores maiores reduzem detecção de pequenos gradientes.
  • IFOV e tamanho de pixel: determine o tamanho do alvo medível à distância; mantenha-se dentro do limite para garantir que o ponto quente preencha múltiplos pixels.


Equipamento: especificações mínimas para uso profissional


Para inspeção elétrica profissional recomendamos:



  • Resolução térmica mínima 320×240 px (preferível 640×480 px para componentes pequenos e alta precisão).
  • Sensibilidade térmica NETD ≤ 40 mK.
  • Objetivas compatíveis com distância de trabalho e campo de visão, possibilitando close-ups em painéis energizados sem violar zonas empresa De instalaçãO elétrica aproximação.
  • Registro radiométrico (imagens com dados de temperatura embutidos) e software de análise que permita comparação e relatório técnico com delta-T, emissividade, distância e condições ambientais.
  • Calibração rastreável e registro do período de calibração.
  • Instrumentação complementar: termômetro de contato (para validação pontual), alicate amperímetro de alta precisão, analisador de qualidade de energia.
  • Operador qualificado em termografia (ISO 18436-7 ou equivalente) e treinamento em NR-10.


Normas, conformidade e responsabilidade técnica



Relevância de NBR 5410, NBR 14039 e NR-10


Inspeções termográficas devem ser realizadas dentro do arcabouço normativo brasileiro:



  • NBR 5410 — instalações elétricas de baixa tensão: critérios de projeto, proteção, seccionamento, aterramento e manutenção. Termografia é uma técnica complementar para avaliar a condição de conexões, dimensionamento e proteção.
  • NBR 14039 — instalações em média tensão: aplica-se a subestações e painéis de média tensão; exige cuidados especiais para trabalhos próximo a partes vivas e documentações de teste.
  • NR-10 — segurança em instalações e serviços em eletricidade: estabelece requisitos de segurança para trabalhos em serviços energizados, planejamento, bloqueio, permit e uso de EPI/EPC; termografia em circuitos energizados precisa seguir esses requisitos.


Documentação, ART, CREA e registros de inspeção


Qualquer atividade técnica relevante (laudo, inspeção, intervenção corretiva) deve ser respaldada por ART assinada por responsável técnico registrado no CREA. O relatório termográfico constitui documento técnico que deve conter identificação do responsável, número da ART, instalação residencial elétrica metodologia, imagens radiométricas originais, equipamentos usados com calibração, condições ambientais, carregamentos medidos, e recomendações de correção com cronograma e risco associado.



Critérios de segurança e aceite legal


Acceptabilidade de uma anomalia térmica depende de análise técnica: a termografia indica presença de um problema, mas não substitui diagnóstico elétrico detalhado. Para aceitação legal, ações corretivas (troca de terminais, reaperto com torque certificado, substituição de disjuntor) devem ser registradas e testadas, com evidências posteriores (nova termografia ou ensaios elétricos) demonstrando a eficácia do reparo.



Aplicação por tipo de instalação



Residencial


Foco em quadros de entrada, DPS, disjuntores termomagnéticos, conexões do medidor e tomada de terra. Frequência: inspeção preventiva anual nas residências e após obras. Problemas típicos: terminais soltos no quadro de distribuição, disjuntores subdimensionados, conexões de ar comprimido e DPS com aquecimento. Consequência: risco de incêndio e falha de proteção. Medidas: reaperto segundo torque do fabricante, substituição de dispositivos danificados e verificação de aterramento (resistência de terra e continuidade).



Predial (comercial e condomínio)


Inclui painéis de alimentação, quadros de pavimento, centros de medição, geradores de emergência e UPS. Inspeções semestrais são recomendadas em áreas críticas, anuais em demais painéis. Particular atenção a conexões de medidores, painéis de distribuição dos elevadores, comandos de bombas e quadros de ar-condicionado. Verificar balanceamento de cargas e atuação de DR, DPS, bem como rotinas de manutenção documentadas nos manuais do condomínio.



Industrial


Em ambientes industriais com elevadas correntes e harmônicos, a termografia é parte integrante do programa de manutenção preditiva. Recomendam-se inspeções mensais em linhas críticas e equipamentos rotativos. Componentes: transformadores de potência, painéis de média tensão, seccionadoras, barramentos, contactores e enrolamentos de motores. Complementar com análise de qualidade de energia (fator de potência, THD) para correlacionar causas térmicas com distorções harmônicas.



Componentes críticos e modos de falha identificados por termografia



Conexões e bornes


Principais causadores de ponto quente. Causas: aperto insuficiente, oxidação, teto de parlage entre condutores, dimensionamento de cabo inadequado. Procedimento: identificar delta-T, correlacionar com corrente medida e aplicar reaperto com chave dinamométrica ao torque recomendado pelo fabricante. Após reparo, registrar nova imagem para validar correção.



Disjuntores, fusíveis e religadores


Aquecimento de polos ou terminais do disjuntor pode indicar desgaste interno, contato monofásico ou sobrecorrente. Fusíveis com aquecimento excessivo podem estar operando próximo ao valor nominal ou sofrendo gradientes térmicos por contato deficiente. Recomenda-se teste de impedância e verificação de curva-temperatura do dispositivo.



Barras e barramentos


Barras com aquecimento localizado podem indicar mau contato com lug ou suportes, oxidação, ou sobrecorrente. Em barramentos de média tensão, termografia deve ser complementada por ensaios dielétricos e inspeção visual após isolamento. Atenção à expansão térmica que pode agravar contatos soltos.



Transformadores e motores


Transformadores: aquecimento desigual em terminais, buchas e enrolamentos deve ser verificado com ensaios de relação de transformação, impedância e análise de óleo (onde aplicável). Motores: hotspots nos terminais indicam problemas de ligação, cabos de alimentação ou sobrecarga; hotspots no corpo podem indicar rolamentos ou sobreaquecimento por carga excessiva.



Proteção contra surtos DR/DPS e aterramento


DRs que aquecem podem sinalizar fuga de corrente ou instalação inadequada. DPS com ponto quente nos bornes indicam passagem de corrente de surto e possível degradação. Verificar continuidade do sistema de aterramento, medir resistência de terra e comprovar equipotencialidade conforme NBR 5410. A termografia complementa, mas não substitui, ensaios elétricos de fuga e resistência.



Procedimentos de inspeção termográfica



Planejamento e permissões


Planejar inspeção com antecedência: identificar circuitos críticos, obter autorização do cliente, emitir permissão de trabalho se necessário e registrar carga esperada. Incluir no plano: pontos de observação, instrumentos necessários, EPI e EPC, tempo de exposição e procedimento para intervenção imediata caso seja detectada condição de risco iminente.



Procedimentos de segurança: NR-10, bloqueio e tagout


Inspeções energizadas exigem avaliação de risco e medidas de proteção conforme NR-10. Implementar hierarquia de controles: eliminar desenergizando quando possível, isolamento administrativo, proteção coletiva (barreiras) e, se permanecer energizado, instalação elétrica uso de EPI adequados (luvas isolantes, protetor facial, vestimenta de proteção contra arco elétrico conforme análise de arco). Utilizar sistema de bloqueio/tagout para intervenções subsequentes com ART registrada.



Metodologia de inspeção: condições elétricas, carga conhecida, imagens comparativas


Para confiabilidade das medições:



  • Inspecionar com cargas normais e, quando aplicável, com carga conhecida (corrente medida) para correlacionar temperatura com I²R;
  • Capturar imagens de referência do mesmo componente em condições aceitáveis (ou de fases semelhantes) para comparativo;
  • Registrar parâmetros ambientais: temperatura ambiente, umidade relativa e vento (corrente de ar altera leitura);
  • Fazer múltiplos ângulos para reduzir erro de emissividade/reflexão;
  • Validar leituras com termômetro de contato em pontos acessíveis e com sensor calibrado.


Critérios de aceitação e limites térmicos


Embora não exista um único critério universal, recomenda-se:



  • Delta-T entre componentes semelhantes (ex.: fases) superior a 10 °C: investigação detalhada;
  • Delta-T entre 10–20 °C: priorizar correção em curto prazo (reaperto, testes de corrente);
  • Delta-T > 20 °C: ação corretiva imediata; considerar energização controlada para inspeção com equipe de intervenção pronta;
  • Comparar temperatura medida com temperatura máxima admissível do componente (dados do fabricante) e limites térmicos dos isolantes e conectores;
  • Registrar como prioridade de risco com classificação (crítico, alto, médio, baixo) baseada no potencial de falha e consequências operacionais.


Registro, relatório técnico e recomendação de intervenção


O relatório técnico deve conter:



  • Identificação do cliente, local, data e hora;
  • Número da ART e responsável técnico (CREA);
  • Lista de equipamentos, modelos e calibração;
  • Condições ambientais, carga elétrica medida (A), curva de carga e resultados de qualidade de energia;
  • Imagens radiométricas originais com paleta, escala e pontos analisados;
  • Medidas complementares (termômetro, corrente, resistências);
  • Classificação de risco, ação recomendada, prazo e procedimentos de segurança para execução do reparo;
  • Assinatura do responsável técnico e evidência fotográfica pós-serviço validando correção.


Manutenção baseada em condição e gestão de riscos



Frequência e priorização de inspeções


Estabeleça planos de inspeção baseados em criticidade:



  • Equipamentos críticos (transformadores, painéis principais, UPS): inspeção mensal a trimestral;
  • Painéis de distribuição secundários: trimestral a semestral;
  • Instalações residenciais/comerciais: anual ou após modificações;
  • Após eventos: curtos-circuitos, overcurrents, surtos atmosféricos, obras ou reformas;


Integração com a manutenção preventiva e corretiva


Termografia deve orientar ações corretivas (reaperto com torque, substituição de terminais, troca de disjuntores) e priorizar intervenções. Integre relatórios térmicos ao CMMS (Computerized Maintenance Management System) com códigos de prioridade, histórico de anomalias e evidência pós-serviço para demonstrar conformidade normativa e due diligence.



Indicadores de desempenho e documentação


Monitore KPIs como número de anomalias detectadas, tempo médio para correção, reincidência e redução de falhas elétricas. Mantendo registros cronológicos demonstrará eficácia do programa de termografia em reduzir risco e custos associados ao tempo de parada e danos materiais.



Interpretação técnica e diagnósticos avançados



Causas térmicas: resistivas, indutivas, harmônicas


Identificar a causa raiz requer correlação entre termografia e medição elétrica:



  • Resistivas (I²R): aumentos de temperatura proporcionais à corrente; correlacionar com medição de corrente e resistência.
  • Indutivas (sobrecarga, correntes de fuga): hotspots em enrolamentos e saturação magnética; confirmar com análise de corrente e ensaios no transformador.
  • Harmônicas: aumentam perdas em condutores e transformadores, gerando aquecimento atípico; realizar análise de qualidade de energia (THD) e, se necessário, filtros de harmônicos.


Diferenciação entre carga e falha


Nem todo ponto quente é falha: conexões que naturalmente aquecem sob alta corrente podem ser aceitáveis se dentro do limite térmico do componente. A diferenciação exige medição da corrente, comparação com a temperatura esperada (usando tabelas do fabricante) e observação de tendência ao longo do tempo. Recomendado histórico termográfico para cada componente.



Vínculo com eficiência energética e fator de potência


Anomalias térmicas podem indicar ineficiências que aumentam perdas e custo energético. Ex.: transformadores aquecendo por sobrecorrente ou harmônicos resultam em maiores perdas. Medidas de correção (correção do fator de potência, balanceamento de carga, substituição de equipamentos ineficientes) reduzem perdas e melhoram estabilidade do sistema, sendo parte do plano de mitigação.



Modernização, retrofit e mitigação



Substituição de componentes e melhoria do dimensionamento


Quando termografia indica recorrência de anomalias, considerar retrofit: usar bornes com maior seção, materiais com melhor condutividade, disjuntores com capacidade térmica compatível, e se necessário, redesenhar barramentos. Sempre confrontar propostas com NBR 5410 e dados de projeto.



Correções de aterramento e proteção diferencial


Problemas detectados em DR ou DPS exigem verificação do sistema de aterramento (resistência de terra, maleabilidade dos eletrodos, equipotencialização). A implementação de DPS adequados e revisão da coordenação de proteção entre dispositivos reduz risco de falha e de acionamentos indevidos.



Projetos de melhoria: balanceamento, PFC, monitoramento contínuo


Programa integrado inclui:



  • Rebalanceamento de fases para reduzir aquecimento desigual;
  • Solução de correção do fator de potência (capacitores com detecção de harmônicos e proteção);
  • Sistemas de monitoramento térmico contínuo em painéis críticos (sensores IR fixos) com alarmes integrados ao SCADA ou BMS;
  • Treinamento recorrente de equipes elétricas para procedimentos de inspeção, leitura de relatórios e ações de mitigação.


Resumo técnico e recomendações de implementação



Resumo técnico


A termografia elétrica é técnica de inspeção não invasiva que, quando aplicada com equipamento adequado, operadores qualificados e procedimentos alinhados à NBR 5410, NBR 14039 e NR-10, reduz risco elétrico, previne incêndios e otimiza a eficiência energética. A técnica identifica problemas em conexões, dispositivos de proteção, barramentos e equipamentos rotativos; contudo, exige correlação com medições elétricas para diagnóstico preciso e registro formal em ART pelo responsável técnico.



Recomendações práticas para profissionais



  • Estruture um programa de termografia com periodicidade baseada na criticidade: crítico (mensal), importante (trimestral), rotineiro (semestral/annal).
  • Adote protocolos de segurança conforme NR-10: planejamento, análise de risco, bloqueio/tagout e EPI/EPC. Considere análise de risco de arco elétrico antes de qualquer inspeção energizada.
  • Utilize câmeras radiométricas com NETD ≤ 40 mK e resolução ≥ 320×240; manter calibração periódica e registros no relatório.
  • Documente emissividade, distância, condições ambientais, corrente medida e instrumento utilizado em todas as imagens; apresente comparativos entre fases e histórico.
  • Classifique e priorize ações com base em delta-T, corrente e criticidade do equipamento; execute reparos com chave dinamométrica seguindo torque do fabricante e registre pós-serviço com nova termografia.
  • Integre termografia com análise de qualidade de energia (medição de corrente, fator de potência, THD) e com CMMS para gestão de ativos e evidência de conformidade.
  • Garanta ART e responsabilidade técnica (CREA) para laudos e intervenções; mantenha registros de treinamento e qualificação do operador (ISO 18436-7 ou equivalente) e cursos complementares de NR-10.
  • Inclua no contrato e no relatório cláusulas sobre limites de ação: quando a falha exige desligamento imediato, quando pode aguardar planejamento e quando exigir acompanhamento contínuo.


Implementar a termografia elétrica com disciplina técnica e conformidade normativa transforma uma rotina de manutenção reativa em um programa preditivo eficaz, reduzindo risco, assegurando conformidade com NBR 5410 e NBR 14039, e atendendo às exigências de segurança da NR-10. A combinação de inspeção radiométrica, medições elétricas e ações documentadas sob ART constitui o padrão de excelência exigido por empreendedores, gestores prediais e proprietários preocupados com segurança, continuidade operacional e eficiência energética.

Search Results

0 Properties Found
Sort By

Cookies

This website uses cookies to ensure you get the best experience on our website. Cookie Policy

Accept